A luta por uma Educação de qualidade perde um grande guerreiro

Desde a década de 1980 Antônio Eugenio do Nascimento é referência nas lutas dos trabalhadores e trabalhadoras da Educação no Rio de Janeiro. Diretor do SEPE-RJ nas décadas de 1980/1990. Eugênio foi professor de Arte da rede estadual e da rede municipal de Angra dos Reis, onde nunca ficou de fora de nenhuma boa briga por uma Educação pública, gratuita, de qualidade e com atenção especial para os filhos e filhas das classes trabalhadoras.

Eugênio dedicou toda sua vida e militância à categoria, participando da luta dos profissionais de Educação. Sua imagem nas assembleias, tocando violão para animar o início das plenárias, enquanto a categoria chegava, e participando dos movimentos e atividades organizadas pelo sindicato para garantir direitos e valorização profissional integram a história das lutas do SEPE-RJ contra governos pouco comprometidos para com a Educação pública em nosso país.

Craque nas artes gráficas e visuais, contribuiu, durante a década de 1990, com a confecção de materiais impressos do sindicato, inclusive, a capa de uma das mais belas agendas já produzidas pelo SEPE. Segundo os mais antigos, é criação dele a atual logomarca do sindicato, começando com o já famoso lápis colorido formando a letra S da nossa sigla. Mas ele era também um craque no violão e exímio cantor que não escondia as raízes sergipanas, que se autointitulava “o Professor Cantador”.

Mas, além de craque nas artes visuais e na música, seu talento maior era mesmo lutar pela Educação. Nas greves, impressionava a companheirada com sua vitalidade. No alto do carro de som, fazia a multidão cantar nas passeatas. Seus discursos nas assembleias de classe arrancavam aplausos e inflamava a categoria.

Sua luta não se dava apenas nos momentos mais aguerridos do movimento, mas também no cotidiano da sala de aula. Em Angra dos Reis, foi o principal articulador e organizador da fase mais maçante e cansativa daa organização do I Congresso Municipal de Educação, ocorrido em março de 1994, que conseguiu reunir mais de 500 profissionais para debater, refletir e deliberar sobre os rumos da Educação no município, com o auxílio luxuoso de grandes nomes como Paulo Freire, Lauro de Oliveira Lima, Nilda Alves e Gaudêncio Frigotto. Foi ele também o principal artigulador e o primeiro gestor de um fabuloso e bem construído projeto político-pedagógico para classes de aceleração (reais, não fake, pra inglês ver), onde alunos com histórico de repetidas reprovações poderiam conquistar uma correção de fluxo entre idade e série estudada. Isso sem falar no famoso projeto (não só em Angra, mas pelo país afora) da Escola do Aluno Caminhador, pensado, construído e colocado em prática pelo coletivo de profissionais da Educação da E. M. Benedito dos Santos Barbosa (apelidada tanto por seus apoiadores quanto pelos opositores de "República Poipular da Bené"), coordenado por ele. O projeto, aliás, ficou registrado no belíssimo livro "A Escola do Aluno Caminhador: uma proposta pedagógica para os filhos da classe trabalhadora", publicado em 1997 pelas Edições Paratodos, do Rio de Janeiro.

Quando se aposentou do município de Angra, Eugenio podia ter deixado um vazio, mas deixou um legado que passa pela luta dos trabalhadores e trabalhadoras da Educação, mas também pelo chão da escola, pela cena cultural angrense, com dezenas de trabalhos gráficos, exposições de seus quadros (era também um pintor de altíssimo nível!), por suas reflexões acadêmicas...

Por onde passou, Eugenio semeou inquietação e a busca incansável por uma Educação que pudesse apontar para um mundo mais justo e mais humano. Por isso, o SEPE Angra-Paraty não poderia deixar de registrar: companheiro Eugenio, presente!